PATRICIA MARRA’S Blog

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QUERIDOS AMIGOS DA CLASSE MÉDIA, AINDA BEM QUE SAIU NO FINANCIAL TIMES, EU ACHEI QUE ESTAVA FICANDO LOUCA

Como habitante da tradicional classe média, há alguns anos venho escutando o “enorme sucesso” da economia
brasileira, que o Brasil é a “bola da vez” no cenário econômico mundial, que está atraindo um volume recorde de investimentos, do número diário de novos milionários que surgem no país, da ascensão da nova classe média, etc, etc.
Pensei que finamente chegou a vez da minha geração, de finalmente, conseguir gerar alguma riqueza e parar de “comer” a riqueza gerada por nossos pais e avós.

Mas o que vivenciamos nos últimos anos são amigos que perdem o emprego e não conseguem uma nova recolocação à altura
de sua formação – e nem do salário anterior, perda de benefícios com empregos sem registro em carteira, amigos que tentam empreender e são pegos pela grande burocracia e pelas altas taxas de impostos. E cada vez mais – muitas, mas
muitas horas extras, jornadas extenuantes de trabalho, executivos e profissionais liberais que chegam em casa às nove da noite, principalmente numa cidade como São Paulo, que possui o trânsito como agravante. Férias de 30 dias, não existem há uns 20 anos, e o que antes eram dois períodos de quinze dias já estão sendo convertidos em venda de férias para a empresa empregadora ou “uma semaninha” de férias por ano.

E como resultado, temos o aumento do consumo de antidepressivos, o surgimento da “Síndrome do Pânico”, crises de
stress e aquele sentimento de cansaço, de derrota, de não conseguir prosperar numa economia tão “próspera” quanto a nossa.

Mas finalmente, a explicação, que não sai na imprensa brasileira, finalmente foi dada, pelo diário econômico britânico “Financial Times”.

E ela é bem simples: o Brasil tem um governo que financia os muito ricos por meio do BNDES, tirou 33 milhões de brasileiros da pobreza com medidas assistenciais e ele fez tudo isso COM O DINHEIRO DA CLASSE MÉDIA TRADICIONAL, que trabalha jornadas extenuantes e paga os impostos mais altos do mundo.

Os dados que comprovam isso são: os preços da carne e da gasolina dobraram, assim como os pedágios nas estradas, assim como comer em restaurantes, assim como o lazer e o turismo; e nossos imóveis e carros estão entre os mais caros do mundo.

E ao contrário do que é oferecido pelo serviço público de alguns países em desenvolvimento, nós não recebemos NADA,
MAS NADA MESMO, DO NOSSO GOVERNO. Nem escolas públicas, nem serviço médico ou odontológico, nem mesmo segurança pública.

Dos 190 milhões de brasileiros, 105,5 milhões são da classe média, sendo que 20 milhões somos nós, da classe média tradicional, com renda mensal superior a R$ 5.175, a chamada classe média “perdedora”. Dá pra ser diferente? Na Índia, a classe média  tradicional foi beneficiada com a ascensão da economia indiana.

Mas no Brasil, a renda de 50% dos habitantes da classe média cresceu 68% em termos reais nos últimos dez anos, enquanto os 10% mais ricos da classe média viram sua renda crescer somente 10% no período. A renda média dos brasileiros com estudo universitário sofreu uma perda de 17% entre 2003 e 2009 (Dados de Marcelo Neri, da Fundação Getúlio
Vargas, especialista na classe média brasileira).

E para finalizar, a classe média tradicional tem que dividir a mesma infraestrutura – que não foi aumentada –
com a classe média ascendente. E tem que disputar as mesmas vagas de emprego, em desvantagem, já que a classe média ascendente ainda possui salários menores.

Eu já estava me esquecendo, ainda tem mais uma: com essa prosperidade da nossa economia, o aumento do consumo sem que
haja uma contrapartida na produção, gera a nossa conhecida, inflação. E para combatê-la, o governo aumenta as taxas de juros e quem fica ainda mais penalizado com as taxas de juros é a tradicional classe média, que tem que pagar pelos produtos e serviços mais caros do mundo. Entendeu????

Caso não tenha entendido, deixe sua mensagem após o sinal, eu não estarei aqui para falar com você, vou tomar meu
antiinflamatório porque estou com uma contratura na coluna, resultado de uma crise de stress, que é resultante de jornadas extenuantes de trabalho, e por vários anos.

A minha empregada também não estará, porque ela vai buscar o marido, um habitante da classe média ascendente, que
saiu do emprego, juntou todo o seu fundo de garantia, comprou um caminhão para começar seu pequeno negócio de entregas. Mas acabou de ser assaltado, não tinha dinheiro para o seguro e perdeu tudo.

O meu marido, você só encontrará às nove da noite. E na semana que vem, estaremos todos fora, pra tirar aquela “semaninha” de férias.

Mas pelos menos, e graças ao Financial Times, sabemos que não somos todos uns fracassados, nem estamos loucos, só
estamos cansados.

 

Informação

Publicado em 31 de julho de 2011 por .